Edição do dia 09/11/2012
09/11/2012 22h18
- Atualizado em
09/11/2012 22h53
Conheça os segredos de brasileiros que conquistaram uma velhice feliz e saudável
Pra muita gente, nuvens seriam sinal de mau tempo. Dias carregados de problemas. Outras pessoas, olham para o mesmo cenário e enxergam algo bem diferente, um horizonte ensolarado, cheio de possibilidades.
Imagine percorrer correndo sem parar uma distância de 42 quilômetros e
145 metros. Parece difícil não é? Quase impossível para muitos, mas não
para eles. Não para este jovem senhor de 83 anos.
“Amanhã rodo mais oito quilômetros. E sábado basta rodar uns 20 quilômetros”, contou Edgard Freire, maratonista.
Um ambiente assim inocente e doméstico também pode conter lá suas
façanhas. Apenas a primeira tentativa falha, mas na segunda lá está a
linha na agulha.
É. Em 92 anos de vida os olhos de dona Maria del Pilar já viram muita
coisa, mas não se cansaram. Talvez porque ela seja mesmo incansável.
“A senhora gosta da vida, dona Maria?”, perguntou a repórter.
“Muito, eu acho que a vida é um grande prêmio que a gente tem. É um
premio que Deus deu para nós. E este premio deveria ser muito
respeitado. E as pessoas não respeitam a vida”, respondeu Maria Del
Pilar Barbero Farto.
Uma árvore estava velha, doente e foi cortada, mas a força da vida
estava lá e era tão poderosa que a fez brotar de novo. Assim como essa
árvore há idosos que parecem enganar o tempo, os preconceitos e
limitações, e a ciência está interessadíssima neles.
Há dois anos, os geriatras da Universidade Federal de São Paulo criaram o laboratório de Longevos.
Trezentos idosos que estão indo longe, como dona Maria, estão sendo
acompanhados e avaliados. Nas consultas, eles tentam descobrir a idade
dos pacientes, mas não aquela idade que todos sabem na ponta da língua.
“Ele chega ao consultório e diz que nasceu no ano de 19 e tanto então
tem oitenta e tantos anos. Mas isso para o geriatra significa pouco. Ou
quase nada, porque o importante hoje em dia é saber o quão bem está este
indivíduo independente da idade que ele tem”, afirmou a geriatra da
Unifesp Ana Beatriz di Tommaso.
Os idosos passam por exames e são testados pelo menos a cada seis meses.
Além da força nas pernas e nos braços. É checada a marcha. E o equilíbrio.
“Equilíbrio ótimo, esse é o equilíbrio estático, aquele equilíbrio que a
gente está parado. Excelente. Melhor do que muita gente mais nova”,
explicou o fisioterapeuta Paulo Affonso.
Como ela chegou lá? Rindo. Acumulando sabedoria. Fazendo da casa uma academia.
“A gente precisa dar trabalho para a mente”, contou dona Maria.
“Este tipo de desafio de que você pode melhorar, e às vezes nem aceitar
a idade que tem é o que a dona Maria, em especial, se sentir jovem. Ela
se desafia toda hora”, disse Ana Beatriz.
Quem quer viver muito não pode ter preguiça. O dia está amanhecendo e o
professor Edgar já está na pista de atletismo se preparando para chegar
cada vez mais longe.
Desafio. Talvez seja essa a essência da vida do professor Edgar. Na
juventude ele foi atleta, correndo venceu provas importantes. Só que ele
se casou e precisou abandonar o esporte para conquistar outro sonho:
faxineiro na Escola Paulista de Medicina ele chegou a técnico no
laboratório de Fisiologia, mas não estava satisfeito.
“Eu fazia tudo e o professor só chegava lá e dava o toque final. Mas
quem fazia toda a preparação era eu. Então eu conhecia o corpo humano, o
corpo do animal, na íntegra, todo o sistema funcional do animal. Só
faltava o diploma”, ressaltou Edgar.
E ele conseguiu o de biomedicina. Venceu a pobreza, o preconceito, se
tornou mestre. Foram 30 anos usando a cabeça, o corpo padeceu. Até que
aos 64 anos e com 17 quilos a mais ele foi colocado diante de um novo
desafio.
“Os fisiologistas da universidade, resolveram pegar ele como exemplo
para mostrar para a população brasileira que era possível alguém com
mais de 60 anos sair do sedentarismo, e iniciar uma atividade física”,
afirmou Vanderlei de Oliveira técnico de atletismo.
O começo foi com uma bateria de exames e uma pequena dose de decepção.
“O primeiro teste que o Wanderlei fez comigo foi correr 3 mil metros. Não consegui terminar”, contou Edgar.
Mas quem não aceita derrota acaba vencendo maratonas. Tapeando a certidão de nascimento.
Só para checar, convidamos seu Edgar para fazer uma nova avaliação.
“É difícil dizer uma idade ao certo funcional. Mas a gente pode dizer
que ele não está na faixa dos 80 pelos exames clínicos laboratoriais, e a
nossa conversa. Está numa faixa mais jovem. Talvez 70, quem sabe
menos”, explicou Ana Beatriz.
Com acompanhamento profissional como o do professor Edgar e de dona Maira é possível melhorar uma coisinha aqui, outra ali.
Um exemplo são os cuidados com a alimentação à medida que a idade
avança. Uma das dicas é sobre a importância do consumo de proteínas como
carne e ovos para fortalecer os músculos. E ficar muito atento às
mudanças do paladar.
“Alguns sentem menos o paladar para o sal e para o açúcar. O que faz
com que eles acabem exagerando na quantidade de sal de açúcar”, afirmou
Maysa Seabra Cendoroglo, geriatra da Unifesp.
Os exercícios e o sol da manhã são excelentes contra a osteoporose.
Dona Mitico, 1m38, 80 anos, parceira de seu Edgar nos treinos, que o diga. Aos 54 era uma pessoa doente, quase sem esperança.
“O pessoal tava falando ela vai para o hospital e não volta mais. E eu
voltei. Já há 20 anos, eu estou correndo”, disse Mitico Nakatani,
maratonista.
Mais uma que desafia a vida a cada passo. Engana o tempo.
Nesta turma, todos estão acostumados a driblar o calendário. Até o
treinador confirma que essa história de que a idade pode ser apenas um
detalhe sem muita importância.
Quando a gente chega assim, pertinho de alguém que já foi tão longe na
vida, fica mesmo curioso: qual o segredo para ultrapassar os 100 anos?
“Quando eu vi, eu cheguei. E já passei também”, contou dona Inácia Chaves, aposentada.
E passou bonito, driblando com maestria todas as dificuldades da vida.
“Eu vendia galinha pra dar estudo pros meus filhos”, lembrou.
Dona Inácia ficou viúva e criou sozinha sete filhos.
“Com todos os tombos que eu levo eu sou feliz”, ressaltou dona Inácia.
E é feliz de um jeito tão simples que emociona a gente.
“A felicidade dela poder andar, poder mexer nas coisas, nas árvores”, disse a filha de dona Inácia.
Dona Inácia faz parte do clube dos campeões da longevidade. Já são
quase 25 mil centenários no Brasil. Mas como vivem as pessoas que
conseguiram atravessar esta linha do tempo com a força das próprias
pernas? Pesquisadoras da Universidade do Estado de Santa Catarina
acompanharam o dia a dia de 30 moradores de Florianópolis, todos
centenários e quanta surpresa. 80% deles levam a vida com boa dose de
independência.
São pessoas que mantém uma rotina ativa.
“Não sei o que eu tenho, eu gosto de trabalhar”, disse Inácia.
E enquanto varre pensa na vida. É dona Inácia, assim dá gosto viver. Os centenários que participaram da pesquisa usaram este aparelho aí. O pedômetro conta o número de passos que eles deram ao longo de um dia. A média foi de 700.
E enquanto varre pensa na vida. É dona Inácia, assim dá gosto viver. Os centenários que participaram da pesquisa usaram este aparelho aí. O pedômetro conta o número de passos que eles deram ao longo de um dia. A média foi de 700.
“Com este número de passos nós concluímos que eles vivem bem e com uma
certa autonomia”, afirmou a pesquisadora da UDESC, Giovana Zarpellon
Mazo.
É um santo remédio.
“Qualquer coisinha, saio, já saio caminho por aqui, caminho por ali, eu gosto de trabalhar, eu gosto”, contou Inácia.
E como gosta, dona Inácia foi a campeã em atividade física. E olha que
ela tem 105 anos. Devagar, tranquila, chega a dar cinco mil passos por
dia.
Taí um dos segredos da longevidade.
“É ter uma vida independente, uma vida ativa sempre, nem que seja
dentro da sua própria rotina, dentro do seu próprio lar”, explicou a
pesquisadora da UDESC Márcia Zanon Benetti.
Mesmo com uma dorzinha que aparece de vez em quando nas pernas, dona Rosa não para. Por que ela faz tudo isso?
“Porque gosto de fazer e não esperar tudo pela filha”, respondeu Rosa Ana de Jesus, dona de casa.
Dona Rosa vive inventando coisas. Á noite adora estourar bolinha de plástico. E fica ligada até na hora de deitar.
Ser a dona do próprio nariz faz um bem e tanto. Disso, dona Otília nunca abriu mão.
“Aquilo que eles podem fazer sozinhos, deve deixar eles fazerem.
Enquanto a mãe conseguir se levantar sozinha da cadeira, ela vai se
levantar sozinha da cadeira”, contou Tânia Helena Fialho Schaefer, filha
de Otília.
“Você tendo autonomia para fazer suas coisas, você vai escolher as coisas que lhe dão prazer”, disse a pesquisadora
Lá vai ela, faceira, para as compras no mercado.
As pesquisadoras descobriram que os centenários não fazem restrição
alimentar, eles comem o que gostam. E dona Otília? Adora ostras.
Dona Otília nasceu em berço de ouro. Casou, teve filhos. Foi abandonada pelo marido e ficou sem um tostão.
“Meu marido, ele foi embora pro Estados Unidos com uma mulher e me
deixou, eu tinha três filhos para educar, para comer, pra vestir, pra
tudo”, revelou Otília Garoffalis Fialho.
Imagine que este é o horizonte de sua vida. Pra muita gente, nuvens
seriam sinal de mau tempo. Dias carregados de problemas. Já outras
pessoas, por algum motivo, olham para o mesmo cenário e enxergam algo
bem diferente, um horizonte ensolarado, cheio de possibilidades.
Foi com este olhar, forte e determinado, que Dona Otília deu a volta
por cima. Virou uma costureira de mão cheia e assim sustentou a família.
“Quando as coisas não tão boas ela enfrenta. E eu acho que esta é a grande lição que a mãe deixa pra nós”, disse a filha de Otília.
“Quando as coisas não tão boas ela enfrenta. E eu acho que esta é a grande lição que a mãe deixa pra nós”, disse a filha de Otília.
Encarar a vida com otimismo é o melhor combustível para ultrapassar com
saúde os 100 anos de idade . Esta foi a principal conclusão da
pesquisa.
“Com o bom humor as pessoas aceitam melhor este processo do
envelhecimento, elas se relacionam muito melhor com a família com os
cuidadores e elas se movimentam melhor”, afirmou a pesquisadora Márcia.
Dona Otília sempre viveu cercada por pessoas queridas e com doses generosas de alegria.
“Ela saia bastante no Carnaval de rua, era fanática por Carnaval, por música”, contou Marcelo Fialho Lemos, neto.
Quando a maioria das pessoas pensa em reduzir a marcha, dona Otília
acelerava, dirigiu até os 90 anos e, aos 60, teve fôlego para começar a
rodar o mundo.
“Itália, França, Japão, China, Índia, tudo”, disse Otília.
Chegou aos 102 anos com um lema:
“Amanhã será um outro dia. Jesus vai me ajudar. E se Deus me ajuda, o que eu quero mais do que isso?”, questionou Otília.
É. que tal passar dos 100 com fé no amanhã? Sabe a dona Inácia ? Ela ainda sonha em reformar a casa.
“Eu estou com 105 anos, mas eu ainda tenho intenção que eu faço esta
casinha. Vou pedir ajuda para o povo. Tem que pensar no futuro”, revelou
dona Inácia
Viver bem, nisso os centenários parecem mestres .
“Falte o que faltar, eu sou contente, sou alegre, pra mim tudo dez”, afirmou dona Inácia.
Assistam este video no link abaixo achei muito interessante:
http://g1.globo.com/globo-reporter/videos/t/edicoes/v/homem-de-93-anos-encontra-nas-ervas-a-formula-da-longevidade/2211025/
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